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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A possessão, segundo Kardec

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A possessão, segundo Kardec

por: 
FERNANDO A. MOREIRA

Imagem da Internet

“Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado.” (Allan Kardec)

Há possessos? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergulho cronológico nas obras da Doutrina Espírita nos leva ao seu berço, “O Livro dos Espíritos”:

1857

Questão 473 - Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo?

– O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material. (1)

Kardec retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem:

Questão 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?

– Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.

Os Espíritos, aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos.
Os verdadeiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico.

Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos:

“O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.”

1858

Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele momento, ele a desfaz no texto da Revista Espírita, por ele dirigida: (2)

“Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a ideia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação da uma idéia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados.”

Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não existia possessão.

1861

O texto acima é parecido com o exarado no “O Livro dos Médiuns” (3), com uma diferença significativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra “ligação”, por “constrangimento”.

1862

Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas as indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo possessão reaparece na Revista Espírita: (4)

“Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos hipocráticos, os infelizes possessos da Palestina e que toda sua ciência esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto)”

Na mesma revista e no mesmo ano, (5) Kardec, nos “Estudos sobre os Possessos de Morzine”, acrescenta a seguinte consideração:

“O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de possessão.”

1863

A retomada do termo tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na Revista Espírita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita (1862, 63, 64, 65 e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando analisa “Um Caso de Possessão”. (6) (7) Senão vejamos:

“Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.(...) Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. (...)”

(O Sr. Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A..., a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas.

– Já que tomastes posse do corpo da Sra.A... poderíeis nele ficar ?
– Não; mas vontade não me falta.
– Por que não podeis ?
– Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria uma peça.
– Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A....
– Está aqui ao meu lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes.

O Sr. Charles (...) era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A... não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade.

Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes.

Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigida por um Espírito malévolo e mal intencionado.

Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas de estrangulamento.

Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, derrubava-o a sopapos, com injúrias e imprecações, apostrofando-o incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se acalcasse aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no peito, no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante,  infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas eu te expulsarei.” Minha caixa era o termo que se servia para designar o próprio corpo.(...)

Um dia, para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente.

Vemos, aí, a luta de dois Espíritos pelo mesmo corpo. Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. (8)

Mas, voltando aos Possessos de Morzine, (9) diz Kardec referindo-se ao perispírito:

“Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. (...) Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica (...)”

Estes últimos, sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os de Morzine.

Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: (10)

“Os primeiros casos da epidemia de Morzine se declararam em março de 1857 (...) e em 1861 atingiram o máximo de 120. (...)

(...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refere.”

1864

Ainda sobre a possessão da Sra. Júlia (12), refere-se Kardec na Revista Espírita, (11):

“No artigo anterior (1863) descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira possessão.”

O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de exorcização, vai bem descrita na Revista Espírita: (12)

“Desde que o bispo pisou em terras de Morzine”, diz uma testemunha ocular, “sentindo que ele se aproximava, os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas; e (...) soltavam gritos e urros, que nada tinham de humano. (...)

As possessas, cerca de setenta, com um único rapaz, juravam, rugiam, saltavam em todos os sentidos. (...) A última resistiu a todos os esforços; vencido de fadiga e de emoção, ele (o bispo) teve que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as pernas cheias de contusões recebidas das possessas, enquanto estas se agitavam sob suas benções.” (...)

Encontramos no Evangelho segundo o Espiritismo (13) a seguinte referência sobre possessão e reforma íntima:

“(...) para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio.”

No mesmo livro (14), há considerações sobre as causas da possessão:

“O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições.

Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão.”

1867

Ainda na Revista Espírita (15) encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como impedi-la:

“Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, como foi possível constatar em muitas ocasiões. (...)

Procedeis em relação aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...) algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica, que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessenciada.”

1868

Em “A Gênese”, (16) Kardec disserta sobre domicílio espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora quer Hermínio Miranda, “condomínio espiritual, com síndico e convenção”.

“Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção.

De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...)”

“Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado.”

“Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o (...)”

“Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judeia, os obsidiados e os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões.” (17)

Com as curas, as libertações do possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) “Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós.” (S. Mateus, cap. XII, 22 e 23) (18)

Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso que o Espírito obsessor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois isso só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea, temporária e intermitente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe para sua própria melhoria, estabelecendo em torno de si uma toalha fluídica, que eles não possam penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda indispensável de terceiros.

Portanto, respondendo às indagações iniciais deste trabalho, podemos dizer que Kardec analisou todas as facetas e prismas da possessão e concluiu que existe possessão e também coabitação.

Uma obra, como a da Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo, jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise de seu conteúdo; existem vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo O Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e na Revista Espírita, em que as verdades foram estudadas à luz dos conhecimentos adquiridos no dia-a-dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma mudança de ideia, mas, sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio, astuto, inteligente, honesto e, antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás.

A fé raciocinada sob a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, levou-o à busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de duas outras, a dos dogmas e a do fanatismo.

Tenhamos igual têmpera e nos deixemos contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo arrasta.


Bibliografia:
(1) KARDEC, Allan . O Livro dos Espíritos, ed. FEB, 1987, perg. 473, pg. 250.
(2) Revista Espírita , 1858, pg. 278.
(3) KARDEC, Allan . O Livro dos Médiuns, ed. FEB, 1982 , item 240, pg. 300.
(4) Revista Espírita, 1862, pg. 109.
(5) Idem , 1862, pg. 359.
(6) Idem , 1863, pg. 373.
(7) KARDEC, Allan . Obsessão, ed. “O Clarim”, 1993, pg. 225.
(8) Idem , pg. 229.
(9) Revista Espírita, 1863 pg. 01.
(10) Idem, 1863, pg. 103.
(11) Idem, 1864, pg. 11.
(12) Idem, 1864, pg.225.
(13) KARDEC, Allan . O Evangelho Segundo o Espiritismo, ed. FEB, 1995, pg. 432.
(14) Idem, pg. 171.
(15) Revista Espírita, 1867, pg. 192.

(16) KARDEC, Allan . A Gênese, ed. 
FEB, 1980, pg. 306.
(17) Idem, pg. 330.
(18) Idem, pg. 329.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Obsessão Telepática

OBSESSÃO TELEPÁTICA

"(...) fenômenos anímicos são aqueles produzidos pela alma do homem encarnado. Aksakof descreve os quatros tipos de ação extracorpórea do homem vivo: 1) aqueles que comportam efeitos psíquicos (telepatia, impressões transmitidas a distância); 2) os de efeitos físicos (fenômenos telecinéticos, transmissão de movimento a distância); 3) os que determinam o aparecimento de sua imagem (fenômenos telefânicos, aparecimento de duplos); 4) aqueles em que há o aparecimento de sua imagem com certos atributos de corporeidade. São os fatos prodigiosos que vão além daqueles proporcionados pelo corpo do encarnado.

Temos, assim, muitas ocorrências que podem resultar nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria inteligência encarnada comandando manifestações ou delas participando com diligência, numa demostração de que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com is seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do corpo físico.

Essa capacidade de sair fora do corpo e atuar como espírito livre também pode gerar condutas patológicas.

A influenciação negativa entre pessoas encarnadas é muito mais comum do que podemos imaginar.

John Herenwald descreve casos de sua clínica psicanalítica referentes à obsessão telepática, provocadas, portanto, por pessoas vivas. Um deles, é o de um rapaz rejeitado por companheiros de pensão. O detalhe importante é que essa rejeição não era fácil de ser detectada, porque tinha caráter oculto, pois todos fingiam apreciá-lo. Com o afastamento do paciente do local, a mudança de ambiente fez com que os sintomas obsessivos desaparecessem, gradualmente, na proporção em que os algozes o esqueciam.

Refere-se André Luiz a um caso de dominação telepática, que vamos detalhar:


CASO ANÉSIA E JOVINO 

Áulus, o benfeitor espiritual, foi chamado a auxiliar o casal Anésia e Jovino e suas três filhinhas. Anésia, além de suas preocupações naturais com a educação das filhas e a assistência à mãe muito doente, às vésperas de desencarnação, sofria tremenda luta íntima, uma vez que Jovino, o esposo, vivia agora sob a estranha fascinação de outra mulher. Esquecera-se, invigilante, das obrigações no lar. Parecia, de todo desinteressado da companheira e das filhas (...). Dia e noite deixava-se dominar pelos pensamentos da nova mulher que o enlaçara na armadilha de mentirosos encantos.

Em casa, nas atividades da profissão ou na via pública, era ela, sempre ela, a senhorear-lhe a mente desprevenida.

Transformara-se o mísero num obsidiado autêntico, sob a constante atuação da criatura que lhe anestesiava o senos de responsabilidade para consigo mesmo.

Áulus, André Luiz, Hilário e Teonília, em caravana deslocaram-se à residência do casal para prestar assistência fraterna. Chegaram, ao anoitecer, no momento do jantar.

Anésia, a jovem senhora, servia, atenciosamente, ao marido, maduro e bem-posto, que se encontrava à mesa, ladeado pelas três meninas. A palestra familiar desdobrava-se afetuosa, mas o dono da casa parecia contrafeito. nem mesmo os doces apontamentos das jovens arrancavam-lhe o mais leve sorriso.

A mãe, ao contrário, desdobrava-se em carinho, incentivando a conversação das filhas. Terminada a refeição, enquanto Anésia ocupava-se no arranjo da copa e da cozinha, o marido se esparramava numa poltrona, devorando os jornais vespertinos.

Reparando que Jovino preparava-se para sair, a esposa perguntou-lhe, um tanto inquieta, se poderia esperá-lo paras as preces que fariam logo mais. Ouviu como resposta uma negativa, proferida com um certo ar de sarcasmo em relação ao valor da prece e acrescida da justificativa de que teria compromissos inadiáveis com amigos para estudo de excelente negócio.

Naquele instante, contudo, surpreendente imagem de mulher surgiu-lhe à frente dos olhos, qual se fôra projetada sobre ele a distância, aparecendo e desaparecendo com intermitências.

Jovino fez-se mais distraído, mais enfadado. Fitava agora a esposa com indiferença irônica, demonstrando inexcedível dureza espiritual.

Por mais que Anésia tentasse uma conversação amigável, não conseguiu retê-lo. Depois de apurar o nó da gravata, bateu a porta com força e retirou-se.

A companheira humilhada caiu em pranto silenciosos sobre velha poltrona e começou a pensar, articulando sem palavras: Negócios, negócios... Quanta mentira! Uma nova mulher, isso sim!...Mulher sem coração que não nos vê os problemas... Dívidas, trabalhos, canseiras! Nossa casa hipotecada, nossa velhinha a morrer!... nossas filhas cedo arremessadas à luta pela própria subsistência!

Nesse momento, apresenta-se na sala a mesma figura de mulher que surgirá à frente de Jovino, aparecendo e reaparecendo ao redor da esposa triste. Esta não via com os olhos a estranha e indesejável visita, no entanto, percebera-lhe a presença sob a forma de tribulação mental. E, inesperadamente, passou a emitir pensamentos tempestuosos.

Lembro-ma dela, sim - refletia agora em franco desespero - conheço-a! é uma boneca de perversidade... Há muito tempo vem sendo um veículo de perturbação para a nossa casa. Jovino está modificado... Abandona-nos, pouco a pouco. Parece detestar até mesmo a oração... Ah! que horrível criatura uma adversária qual essa, que se imiscui em nossa existência à maneira da víbora traiçoeira! Se eu pudesse, haveria de esmagá-la com os meus pés, mas hoje guardo uma fé religiosa que me forra o coração contra a violência...

À medida, porém, que a Anésia monologava intimamente em termos de revide, a imagem projetada de longe abeirava-se dela com maior intensidade, como que a corporificar-se no ambiente para infundir-lhe mais amplo mal-estar.

A mulher  que seduzira Jovino materializara-se aos olhos de Áulus, André Luiz e amigos.

E as duas, assumindo a posição de francas inimigas, passaram á contenda mental (...). Lembranças amargas, palavras duras, acusações recíprocas.

Anésia passou a sentir desagradáveis sensações orgânicas, muita tensão cerebral. Áulus foi informado de que há muitas semanas, diariamente, esse conflito se repete. O instrutor espiritual deu-se pressa em aplicar-lhe recursos magnéticos de alívio e, desde então, as manifestações estranhas diminuíram até cessarem por completo. Áulus explicou, então, que Jovino estava sob imperiosa dominação telepática, á qual deixou-se enredar facilmente. Essa atuação passou a envolver também a esposa, em virtude do regime de influência mútua em que respiram marido e mulher, principalmente porque Anésia não tem sabido imunizar-se com os benefícios do perdão incondicional.

Perguntado se o fenômeno era comum, Áulus respondeu que é intensamente generalizado e acrescentou:

É a influenciação de almas encarnadas entre si que, às vezes, alcançam o clima de perigosa obsessão. Milhões de lares podem ser comparados a trincheiras de luta, em que pensamentos guerreiam pensamentos, assumindo as mais diversas formas de angústia e repulsão.

Indagado também se o assunto poderia ser enquadrado nos domínios da mediunidade, respondeu:

Perfeitamente, cabendo-nos acrescentar ainda que o fenômeno pertence à sintonia. Muitos processos de alienação mental guardam nele as origens. Muitas vezes, dentro do mesmo lar, da mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se vêem possuídos, uns à frente dos outros, e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos das antipatia que, concentrados, se transformam em venenos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a morte. para isso, não será necessário que a perseguição recíproca se expresse em contendas visíveis. bastam as vibrações silenciosas de crueldade e despeito, ódio e ciúme, violência e desespero, as quais, alimentadas, de parte a parte, constituem corrosivos destruidores. 

Em Obreiros da Vida Eterna, o assistente Barcelos, benfeitor espiritual também ligado à Psiquiatria sob novo prisma, traz, do mesmo modo, importantes ponderações sobre a influência de encarnados entre si. Refere-se às necessidades de esclarecimento dos homens, perante os seus próprios companheiros de plano evolutivo:

No círculo das recordações imprecisas, a se traduzirem por simpatia e antipatia, vemos a paisagem das obsessões transferida ao campo carnal, onde, em obediência às lembranças vagas e inatas, os homens e as mulheres, jungidos uns aos outros pelos laços de consanguinidade ou dos compromissos morais, se transforam em perseguidores e verdugos inconscientes entre si. Os antagonismos domésticos, os temperamentos aparentemente irreconciliáveis entre pais e filhos, esposos e esposas, parentes e irmãos, resultam dos choques sucessivos da subconsciência, conduzida a recapitulações retificadoras do pretérito distante. Congregados de novo, na luta expiatória ou reparadora, as personagens dos dramas que se foram, passam a sentir e ver, na tela mental, dentro de si mesmas, situações complicadas e escabrosas de outra época, malgrado os contornos obscuros da reminiscência, carregando consigo fardos pesados de incompreensão, atualmente definidos por "complexos de inferioridade".  

Barcelos ressalta ainda que o encarnado, nessas condições, é um forte candidato à loucura, porque não sabe explicar as recordações imprecisas que brotam do passado no presente e não conta também com o auxílio de psiquiatras e neurologistas, muito presos ainda às convenções da medicina ortodoxa. Segundo crê, falta-lhe a água viva da compreensão e a luz mental que lhe revele a estrada da paciência e da tolerância, em favor da redenção própria.

Quanto aos casos de antipatia contra nós, ensina Áulus que a melhor maneira de extinguir o fogo é recusar-lhe combustível.

O remédio mais eficaz é a fraternidade operante. Por isso mesmo, o Cristo aconselhava-nos o amor aos adversários, o auxílio aos que nos perseguem e a oração pelos que nos caluniam.

Desde pequena, tenho ouvido falar em crueldade mental, como causa de separação dos cônjuges. Hoje, com as explicações da obra de André Luiz, compreendo melhor o que é essa situação traumática, vivida em grande parte dos casos, como perseguição recíproca, e que, nem sempre, expressa-se em contendas visíveis.

Em muitos lares, onde não há o Evangelho do Cristo no coração, a obsessão telepática tem produzido muitas lágrimas, separação e até loucura.

Há também outro fator a considerar, os espíritos inferiores, muitas vezes comparsas ou inimigos de outras encarnações, que se imiscuem nos processos de obsessão telepática, agravando de muito o quadro patológico inicial.

Como reconhece Aksakof: "Nos fatos da telepatia, é frequentemente difícil precisar o momento no qual o fato anímico se torna um fato espirítico".

Na obsessão telepática ficam configuradas as ocorrências mais comuns de influência negativa entre encarnado para encarnado."

Livro: A Obsessão e suas Máscaras
Autora: Marlene R. S. Nobre
Editora: FE Editora Jornalística ltda.
Ano: 2012
Páginas: 21 a 27.

        



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Carnaval, por Emmanuel

Carnaval, por Emmanuel






Nenhum espírito equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências, nas festas carnavalescas.


É lamentável que, na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com o título de civilização. Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da trevas nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.


Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidade e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifiquem o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.


Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos, na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho.


Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretensiosas opiniões, colaborando conosco, dentro das suas possibilidades, para que possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.


É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um eloqüente atestado de sua miséria moral.



Emmanuel
Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier em Julho de 1939 / Revista Internacional de Espiritismo, Janeiro de 2001.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Melancolia



MELANCOLIA


Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos faz achar a vida tão amarga?É que o vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, mas, ligado ao corpo que lhe serve de prisão, esgota-se em vãos esforços para dele sair. Porém, reconhecendo que são inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, sois tomados pela lassidão, pelo abatimento e por uma espécie de apatia; por isso vos julgais infelizes.

Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. Essas aspirações a um mundo melhor são inatas no espírito de todos os homens; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a desatar os laços que vos mantém cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante a vossa prova na Terra, tendes uma missão de que não suspeitas, quer vos dedicando à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. E se, no curso dessa provação, ao cumprirdes a vossa tarefa, virdes caírem sobre vós os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos; duram pouco e vos conduzirão para junto dos amigos por quem chorais, que se alegrarão com a vossa chegada entre eles e vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra. 
(François de Genève. - Bordeaux)

Evangelho Segundo o Espiritismo
Capítulo V - Bem-aventurados os aflitos
A Melancolia - item 25
Editora: FEB
  

sábado, 7 de janeiro de 2017

Carta de Ano Novo

Carta de Ano Novo
Ano Novo é também oportunidade de aprender, trabalhar e servir. O tempo como paternal amigo, como que se reencarna no corpo do calendário, descerrando-nos horizontes mais claros para necessária ascensão.
Lembra-te de que o ano em retorno, é novo dia a convocar-te para a execução de velhas promessas que ainda não tivestes a coragem de cumprir.
Se tens inimigos faze das horas renascer-te o caminho da reconciliação.
Se foste ofendido, perdoa, a fim de que o amor te clareie a estrada para frente.
Se descansaste em demasia, volve ao arado de tuas obrigações e planta o bem com destemor para a colheita do porvir.
Se a tristeza te requisita esquece-a e procura a alegria serena da consciência tranquila no dever bem cumprido.
Ano Novo! Novo Dia!
Sorri para os que te feriram e busca harmonia com aqueles que te não entenderam até agora.
Recorda que há mais ignorância que maldade em torno de teu destino.
Não maldigas nem condenes.
Auxilia a acender alguma luz para quem passa ao teu lado, na inquietude da escuridão.
Não te desanimes nem te desconsoles.
Cultiva o bom ânimo com os que te visitam dominados pelo frio do desencanto ou da indiferença.
Não te esqueças de que Jesus jamais se desespera conosco e, como que oculto ao nosso lado, paciente e bondoso, repete-nos de hora a hora: - Ama e auxilia sempre. Ajuda aos outros amparando a ti mesmo, porque se o dia volta amanhã, eu estou contigo, esperando pela doce alegria da porta aberta de teu coração.
Pelo Espírito Emmanuel
XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Caminho. Espíritos Diversos. GEEM.